Tipologia e gêneros textuais — tem diferença?
Apesar de parecer a mesma coisa, tipo e gêneros textuais são diferentes, contudo estão ligados. Para facilitar e entender o que é cada um dos, vamos as definições:
TIPOLOGIA TEXTUAL
A categoria tipo textual, segundo Marcuschi, é um conceito que abrange de cinco a dez categorias, designadas narração, argumentação, exposição ou dissertação, descrição, injunção e diálogo. Sendo que esse agrupamento é de natureza linguística.
Os tipos textuais constituem os elementos fundamentais da infra-estrutura geral dos textos, que por sua vez, é responsável pela organização sequencial ou linear do conteúdo temático. Além disso, um texto pode conter uma, várias ou todas as sequências ao mesmo tempo.
Dessa forma, os tipos textuais, ou tipologias textuais, são a forma sob a qual o texto se apresenta determinando a estrutura padrão que rege como cada um será construído. A tipologia textual é classificada de acordo com objetivo, estrutura e finalidade do texto.
Assim, superando o conceito, podemos aprofundar nas classificações:
TEXTO DESCRITIVO
A descrição pode ser objetiva ou subjetiva, sendo que na primeira o ser/objeto/espaço é descrito tal qual se apresenta ao mundo e na segunda, diferentemente, o ser/objeto/espaço é descrito a partir das impressões
pessoais (subjetivas) de quem está realizando a caracterização.
A finalidade desse tipo textual é criar na mente do interlocutor uma imagem do que está sendo descrito. Podendo utilizar recursos como a enumeração, a comparação e os cinco sentidos.
Ademais, são características próprias desse tipo textual:
- É um retrato verbal
- Ausência de ação e relação de anterioridade ou posterioridade entre as frases
- As classes gramaticais mais utilizadas são: substantivos, adjetivos e locuções adjetivas
- Como na narração há a utilização da enumeração e comparação
- Presença de verbos de ligação
- Os verbos são flexionados no presente ou no pretérito (passado)
- Emprego de orações coordenadas justapostas
Como exemplo podemos citar:
“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. [..] As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas.” (O Cortiço — Aluísio Azevedo)
TEXTO NARRATIVO
Os textos narrativos são formas básicas globais muito importantes da comunicação textual. A estrutura narrativa é caracterizada pela marcação temporal cronológica, além do destaque dado aos agentes das ações. Na narrativa, predominam as ações, sendo que as descrições de situações e estados lhe são subordinadas.
Assim, tais textos literalmente narraram, ou seja, contam uma história que envolve personagens e acontecimentos. Aqui são apresentadas ações e personagens: O que aconteceu, com quem, como, onde e quando.
Dessa forma, as características mais importantes são a presença de
- Personagens, os quais podem ser reais ou fictícios
- Enredo que é a trama em que se desenrolam as ações. São classificados em: enredo linear, enredo não linear, enredo psicológico e enredo cronológico.
- Tempo da narrativa que é tipicamente o passado, mas pode ser o presente (a narração de um jogo de futebol) ou o futuro (obras proféticas, por exemplo).
- O espaço pode ser físico (uma cidade, uma casa, uma escola) ou psicológico (mente do personagem ou do narrador).
- O narrador, que pode ser de primeira ou terceira pessoa: o narrador em primeira pessoa participa das ações; o narrador em terceira pessoa não está diretamente envolvido nas ações, podendo ser observador (apenas relata os acontecimentos vistos a olhos nus) ou observador onisciente (aquele que tudo sabe, que tudo vê, inclusive os estados mentais das personagens).
Além disso, existem três tipos de discurso, ou seja, três formas de introdução das falas das personagens na narrativa:
- O discurso direto é caracterizado por ser uma transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador.
- O discurso indireto é caracterizado por ser uma intervenção do narrador no discurso ao utilizar as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens.
- O discurso indireto livre é caracterizado por permitir que os acontecimentos sejam narrados em simultâneo, estando as falas das personagens direta e integralmente inseridas dentro do discurso do narrador.
Como exemplo:
“E ele, caminhando devagar sob as acácias, sentia no sombrio silêncio as pancadas desordenadas do seu coração. Subiu os três degraus de pedra — que lhe pareciam já de uma casa estranha. (…) Ali ficou. Melanie, com o xale na mão, veio dizer-lhe que a senhora estava na sala das tapeçarias… Carlos entrou. (…) E correu para ele, arrebatou-lhe as mãos, sem poder falar, soluçando, tremendo toda.” (Os Maias, Eça de Queirós)
TEXTO DISSERTATIVO
Dissertar é falar sobre algo, sobre determinado assunto; é expor; é debater. Este tipo de texto apresenta uma explanação detalhada de determinados temas e conhecimentos. Além disso, para construção deste tipo de texto há a necessidade de conhecimentos prévios do assunto/tema tratado.
Aqui a ênfase é temática, ou seja, a organização se dá através de componentes ligados entre si por várias relações lógicas: premissa e conclusão, problema e solução, tese e evidência, causa e efeito, analogia, comparação, definição e exemplo. Além disso, são mais raros os marcadores da presença de um sujeito enunciador e de sinais que indicam avaliações.
Como exemplo:
No seu aspecto exterior, na sua constituição geográfica, o Brasil é um todo único. Não o separa nenhum lago interior, nenhum mar mediterrâneo. As montanhas que se erguem dentro dele, em vez de divisão, são fatores de unidade. Os seus rios prendem e aproximam as populações entre si, assim os que correm dentro do país como os que marcam fronteiras.
Por sua produção e por seu comércio, é o Brasil um dos raros países que se bastam em si mesmos, que podem prover ao sustento e assegurar a existência de seus filhos. De norte a sul e de leste a oeste, os brasileiros falam a mesma língua quase sem variações dialetais. Nenhuma memória de outros idiomas subjacentes na sua formação perturba a unidade íntima da consciência do brasileiro na enunciação e na comunicação do seu pensamento e do seu sentimento. (Gilberto Amado, Três livros)
TEXTO ARGUMENTATIVO
Já o texto argumentativo , diferente do texto dissertativo procura-se formar a opinião do leitor ou ouvinte, objetivando convencê-lo de que a razão (o discernimento, o bom senso, o juízo) está com o ponto de vista defendido, de que o texto está de posse da verdade.
O raciocínio argumentativo implica, primeiramente, a existência de uma tese, admitida supostamente, sobre um dado tema. Sobre o pano de fundo dessa tese, são propostos dados novos, que são objetos de inferências, que orientam para uma conclusão ou nova tese.
A grande questão envolvendo a argumentação é sua consistência, sua fundamentação. Os estudos clássicos defendem que a argumentação é fundamentada em dois elementos principais: a consistência do raciocínio e a evidência das provas.
Há cinco tipos mais comuns de evidência das provas:
- os fatos;
- os exemplos;
- as ilustrações;
- os dados estatísticos;
- o testemunho.
Como exemplo desse tipo textual:
TEXTO INJUNTIVO
O tipo textual instrucional ou injuntivo é muito comum em no dia a dia.
Muito comum em programas culinários em que o(a) apresentador(a) lista os ingredientes e dá orientações sobre como o preparo do prato deve ser feito. Ao dar orientações, o(a) apresentador(a) ensinou o espectador a realizar uma tarefa. Essa é a propriedade básica desse tipo textual: ensinar/ orientar/ instruir o leitor/ouvinte/espectador a realizar uma tarefa.
Os principais gêneros que se organizam no tipo textual instrucional (ou injuntivo) são os seguintes: receita culinária, manual de instruções, bula de remédio, regras de jogo, roteiro de viagem, mapas.
Linguisticamente, o tipo textual instrucional (ou injuntivo) organiza-se da
seguinte forma:
- PRIMEIRA PARTE: lista que denomina as partes que compõem o objeto, o aparelho, os ingredientes de um prato etc.
- SEGUNDA PARTE: instruções a serem seguidas; essas instruções são apresentadas em verbos no imperativo ou no infinitivo.
Como exemplo:
Massa de Panqueca Simples
Ingredientes:
1 ovo
1 xícara de farinha de trigo
1 xícara de leite
1 pitada de sal
1 colher de sopa de óleoModo de Preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador. A seguir, aqueça uma frigideira untada com um fio de óleo em fogo baixo.
Coloque um pouco da massa na frigideira não muito quente e esparrame de modo a cobrir todo o fundo e ficar só uma camada fina de massa.
Deixe igualar os dois lados, até que fiquem levemente douradas. Retire com a espátula, e sirva com o recheio de sua preferência.
Sugestão de recheio: carne moída, queijo e geleia.
TEXTO DIALOGAL
A estrutura de um diálogo é relativamente simples: o interlocutor 1 interage
verbalmente e, em seguida, o interlocutor 2 também interage. A interação do interlocutor 2 pode ser espontânea ou induzida. Na interação espontânea, o interlocutor concorda, complementa ou discorda em relação ao que é dito pelo interlocutor 1. Na interação induzida, o interlocutor 2 responde a uma pergunta realizada pelo interlocutor 1.
Para exemplificar:
GÊNEROS TEXTUAIS, POR SUA VEZ SÃO…
estruturas que se posicionam em funções sociais específicas e, por isso, ocorrem de acordo com a necessidade de interação e comunicação do ser humano, além das variações apresentadas pelos diferentes contextos de discurso. O uso dos gêneros é ativado sempre que um falante é inserido em algum tipo de situação comunicativa.
Conforme Bakhtin, cada esfera da atividade humana elabora um variado número de gêneros, que refletem as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas. Esses gêneros distinguem-se uns dos outros por seu conteúdo temático, estilo verbal e por sua construção composicional. Essas três dimensões, apesar de possuírem características específicas, fundem-se compondo o gênero. Portanto, são indissociáveis e não há predomínio de uma sobre a outra.
Tal variabilidade, de certa forma, impede a enumeração fixa dos tipos de gênero textual. No entanto, certas peculiaridades comuns facilitam seu agrupamento, como a característica inerente de tipos estáveis de enunciados, estruturas e conteúdos temáticos que facilitam sua definição.
Podemos citar alguns gêneros textuais e, inclusive, separá-los dentro de determinadas categorias de tipos textuais:
Gêneros textuais em textos narrativos:
- Conto
- Biografia
- Fábula
- Romance
- Lenda
- Novela
- Carta
Gêneros textuais em textos dissertativos:
- Resumo
- Resenha
- Reportagem
- Notícia
- Monografia
- Verbete de dicionário
- Cardápio
Gêneros textuais em textos descritivos:
- Diário
- Relato de viagem
Gêneros textuais em textos injuntivos:
- Receita
- Manual de instruções
- Regras de jogo
- Bula
- Lista de compras
Gêneros textuais em textos argumentativos:
- Artigo de opinião
- Crônica
- Editorial
- Carta (se endereçada à sociedade, como uma carta aberta)
Gêneros textuais em textos dialogais:
- Autos
- História em quadrinhos
- Tirinhas
ENTÃO, QUAL É A DIFERENÇA ENTRE TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS??
A resposta é simples, enquanto os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abrangentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição, explicação e etc. Além disso, os tipos textuais apresentam estrutura definida e número limitado de possibilidades, de cinco a nove tipos.
Os gêneros textuais, por sua vez, apresentam maior diversidade e exercem funções sociais específicas. Ademais, são passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservando características preponderantes.
Além disso, é importante lembrar que os textos são predominantemente de um tipo textual. Isso porque pode haver, em um mesmo texto, uma narração, uma descrição e uma argumentação. O que determina a predominância é a função do texto: se a função é argumentar (defender um ponto de vista) e, para isso, faz-se uso de uma narração, o texto será predominantemente argumentativo.
.